Maria Montessori sempre considerou em seus estudos diversas áreas de contribuição. Em seu livro “A Criança”, ela traz a psicanálise de Freud como fonte de descobertas impressionantes para o método montessoriano.
Ainda que a criança seja dotada de pouca vivência, seu desenvolvimento é também psíquico e, assim, vulnerável a sofrimentos mesmo ainda na infância. Tais sofrimentos se observados podem ser tratados para que não resultem em um adulto psiquicamente doente.
A dores no início da infância.
Por meio da psicanálise, foi possível acessar a alma da criança na primeira infância. As observações e os estudos das lembranças do inconsciente infantil revelavam sofrimentos diferentes daqueles que era esperado e considerados incapazes de gerar uma personalidade adulta psicologicamente doente. Entretanto, foi possível observar o sofrimento causado pela repressão da atividade espontânea da criança, devida ao adulto que a domina (falamos mais desse assunto aqui).
Algumas dores eram resultantes do conflito natural que existe entre os instintos da criança e as condições do ambiente ao qual ela deve se adaptar. Essas condições eram mais simples e curáveis, uma vez que são mais facilmente percebidas e, portanto, trazidas para o campo consciente da mente.
Já as lembranças infantis que decorrem entre a criança e o adulto se revelaram como causas mais profundas, complexas e mais dificilmente curáveis.
A criança é a própria infância.
Sabe-se a importância que tem os fatos ocorridos na infância. Grande parte das predisposições adultas para doenças mentais ou até mesmo físicas partem do que acontece na infância e fica gravado no subconsciente. Segundo Maria Montessori:
“(a criança) não precisa recordar a sua infância: ela é a infância. É preciso observá-la mais que sondá-la, mas de um ponto de vista psíquico, procurando verificar os conflitos pelos quais ela passa nas suas relações com o adulto e o ambiente social.”
Como o próprio método montessori aponta, a observação da criança em sua existência social é a cura e o tratamento das causas psíquicas.
Repressão: o roubo da espontaneidade.
Freud utiliza em suas técnicas psicanalíticas a palavra “repressão” com muita frequência. Porém, quando se trata da criança, existe uma observação necessária: A criança encontra no adulto que a domina a própria dificuldade em expandir-se. E isto ocorre, porque o adulto a reprime. Ele exerce uma influência sobre ela, primeiro a mãe, depois o pai e, por fim, os professores.
Os adultos possuem quase que a tarefa oposta àquela de permitir a expansão da criança. A sociedade os permite dominar, controlar a espontaneidade infantil. Porém, são os erros inconscientes dos adultos levados à consciência que permitem a autodescoberta. Todo amadurecimento permite o aperfeiçoamento.
Assim, para realmente ajudar o desenvolvimento da criança, faz-se necessário modificar o adulto. Ele mesmo deve recorrer ao que faz involuntariamente e de forma inconsciente, buscar a cura de sua criança psíquica. Além disso, o adulto deve agir como quem procura o desconhecido nas almas das crianças, aquele que, de fato, não exprime regras e formas de saber absolutas, mas que permite que ela viva sua natureza mais essencial.
“É necessário que o adulto encontre em si mesmo o erro ignorado que o impede de ver a criança. Se essa preparação não foi efetuada e se ainda não foram adotadas as atitudes adequadas a tal preparação, é impossível ir-se adiante.”
(Maria Montessori)
O adulto deve render-se a refletir e se curar. Deixar de olhar a criança sob o ponto de vista egocêntrico do adulto.
Assim, a psicanálise traz ainda as bases para aprender a lidar com o psíquico e a alma da criança, decifrar seu desenvolvimento e evitar que seus sofrimentos ultrapassem para a personalidade adulta.
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