Antes de entender como resolver os conflitos, é preciso compreender como e o porquê eles surgem. Entre o adulto e a criança existem diferenças consideráveis de experiência e espontaneidade. No início, a necessidade que a criança tem do adulto, permite que eles se sinta dono e responsável por tudo. Essas posições fazem sentido até o momento em que o adulto é um guia para a criança. Porém, o conflito começa quando a criança atinge o ponto de desenvolvimento que lhe permite agir.
Até então, a criança se desenvolvia sensorialmente, sem impedimentos significativos. A partir do momento em que a criança age no mundo, anda, toca os objetos, a posição entre o adulto e a criança se transforma. O adulto, ainda que ame profundamente a criança, começa a perceber a independência dela e , de certa forma, percebe uma ousadia, e assim, nasce nele o que Maria Montessori chamou de "um irresistível instinto de defesa" contra a criança.
Não se trata de um embate, mas si de diferenças de estados psíquicos que fazem a convivência se tornar conflituosa em determinado momento do desenvolvimento da criança.
O que normalmente acontece é a urgência do adulto em silenciar as perturbações naturais da criança
Primeiramente, é fácil perceber que, na maioria das vezes, o que passa a acontecer é a autoridade do adulto tomar conta do ambiente. Assim, as adaptações que surgem podem ser desfavoráveis à criança.
Em geral, ocorre:
a repressão dos atos incômodos da criança
a falta de consciência do adulto de seu estado defensivo
a defesa inconsciente do adulto se transforma no “dever de educar a criança"
E, logo, surge a necessidade de fazer a criança se aquietar bastante para manter o bem-estar do adulto e não ser perturbado.
Essa batalha, mascarada pela defesa do inconsciente, já se realiza entre o amor dos pais e a inocência das crianças. É muito cômodo para o adulto dizer: “ A criança não deve se movimentar, não deve tocar nos nossos objetos, nem falar ou gritar, deve permanecer deitada, comer e dormir. Ou sair de casa, embora com pessoas que não a amem e não pertençam à família”. O adulto, por força da inércia, escolhe o caminho mais fácil para ele: faz a criança dormir.
Maria Montessori (A Criança)
E, enfim, como agir para resolver e evitar os conflitos?
Deve partir do adulto a consciência de interpretar e respeitar as necessidades da criança, para acompanhá-la e guiá-la com seus cuidados, preparando-lhe um ambiente adequado.
É preciso dar início a uma nova era na educação e encerrar a época em que os adultos consideravam a criança como um pequeno objeto que se apanhava e transportava para qualquer lugar e que, depois de crescida, devia apenas obedecer os adultos.
É necessário quebrar esses pensamentos e que o adulto se entenda como parte de uma posição secundária no desenvolvimento da criança. Uma vez que, a personalidade da criança está em desenvolvimento e, dessa forma, ainda é mais fraca, torna-se necessário que a personalidade mais forte do adulto se faça passiva para dar voz e força à criança.
Assim, Maria Montessori defende a autoeducação e afirma que a criança deve ter o direito de dormir quando sente sono e de levantar-se quando quer. E, para isso, recomenda a abolição do clássico berço infantil quando a criança começa a se tornar independente. Montessori acredita que a substituição do berço por um colchão baixo, quase rente ao chão, permite mais autonomia à criança e ela poderá deitar-se e levantar-se à vontade.
Dessa forma, os pais e educadores poderão se aproximar da criança e, quando unidos, evitar conflitos e permitir o pleno desenvolvimento e a harmonia da família.
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